(...)
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando
assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu
pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio
melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa
turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no
meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e
vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no
umbigo do universo. Você toca na minha mão, eu toco na sua.

Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo
olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas
águas verdes tão Cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas
Contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é
meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no
ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo
balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os
olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em
você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais
devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido
muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de
dormirvezenquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no
lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme
com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os
anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se
fosse verdade, um beijo.

Caio F. Abreu