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Primeira canção do beco


Teu corpo dúbio, irresoluto
De intersexual disputadíssima,
Teu corpo, magro não, enxuto,
Lavado, esfregado, batido,
Destilado, asséptico, insípido
E perfeitamente inodoro
É o flagelo de minha vida,
Ó esquizóide! ó leptossômica!

Por ele sofro há bem dez anos
(Anos que mais parecem séculos)
Tamanhas atribulações,
Que às vezes viro lobisomem,
E estraçalhado de desejos
Divago como os cães danados
A horas mortas, por becos sórdidos!

Põe paradeiro a este tormento!
Liberta-me do atroz recalque!
Vem ao meu quarto desolado
Por estas sombras de convento,
E propicia aos meus sentidos
Atônitos, horrorizados
A folha-morta, o parafuso,
O trauma, o estupor, o decúbito!

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Segunda canção do beco


Teu corpo moreno
É da cor da praia.
Deve ter o cheiro
Da areia da praia.

Deve ter o cheiro
Que tem ao mormaço
A areia da praia.

Teu corpo moreno
Deve ter o gosto
De fruta de praia.
Deve ter o travo,
Deve ter a cica
Dos cajus da praia.

Não sei, não sei, mas
Uma coisa me diz
Que o teu corpo magro
Nunca foi feliz.



Manuel Bandeira


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Ontem, tivemos o Iº Circuito Literário!
Ontem, foi um dia bom, mas muito bom mesmo!
Ontem, Tia Beta saiu da UTI.
Ontem, eu fui ao cinema!
Ontem, passei mais de duas horas conversando com Ela.
Ontem, eu fiquei no cinema com "um Ele".
Ontem, fez 5 anos que Mickey Mouse foi pra Curitiba (e nos deixou!).
Ontem, eu fiquei com saudade!
Ontem, eu fiquei alegre...